domingo, 25 de setembro de 2011

TELEFONEMA




Inverno de 1987. São exatamente vinte e três horas. O telefone toca várias vezes e Carol, finalmente, acorda. Levanta-se de sua cama ainda inebriada pelo sono, mas atende ao chamado. Após alguns minutos, com um sorriso meio trêmulo e forçado, ela coloca o telefone no gancho. Apanha alguns calmantes. Toma um ou dois destes. Retorna ao quarto e volta a dormir. Trinta minutos depois, Carol acorda assustada. Parece que teve um terrível pesadelo. Sai do quarto correndo, desce as escadas apressadamente e, no telefone da sala, liga para alguém. Ela segura o aparelho como se tivesse medo de que ele pudesse causar-lhe algum mal. Enquanto isso, uma rajada de vento, daqueles que não se pode segurar, entra pelas janelas entreabertas da sala. Carol nem percebe a ventania e, ao escutar pela segunda vez a mesma e inacreditável notícia, liberta um grito de pavor. Este ecoa por alguns instantes em toda a casa. Desesperada, larga o telefone, corre em direção à porta e sai. Lá fora, só o infinito das estrelas colocadas sob o negro céu. O frio, ela já não o sentia. O terrível sofrimento amortecera o seu pequenino e frágil corpo. Então, sem saber o que fazer ou no que pensar, senta-se no canto esquerdo da varanda e, com os olhos avermelhados e cheios de sofrimento, olha fixamente para o céu... Não tendo mais nenhuma esperança,  adormece.
            Na manhã seguinte, Elaine chega ao sítio onde Carol se encontra. Ela havia ligado várias vezes, durante toda noite para sua irmã, mas ela não atendeu nenhuma vez ao seu chamado. Por isso resolveu ir até lá. Ao avistar sua irmã sentada na varanda, adormecida, vestida apenas com uma simples e fina camisola preta, sentiu uma sensação estranha, como se uma pedrinha de gelo tocasse bem no fundo do seu coração. Arrepiou-se toda, ao segurar as mãos de sua irmã. Estavam frias... tensas... rígidas. Elaine entra em desespero. Grita, ininterruptamente, o nome de Carol. Grita com toda a sua força, enquanto sacode sua irmã de um lado para o outro, a fim de despertá-la daquele insustentável sono. Mas nada mais adiantava. Sua irmã não dormia, estava morta.
            À tarde, ao invés de dois sepultamentos – o de Richard, marido de Carol e o de Ester, filha do casal – houve três.
            Carol, que aguardara ansiosamente a chegada do marido e da filha, no recém comprado sítio para que juntos pudessem desfrutar das férias tão desejadas, não conseguiu suportar tamanha dor e sofrimento.
            A casa – depois dessa fatalidade – tornou-se como aquele forte vento: indesejado, devastador e muito frio... Fria.


(Conto produzido durante uma aula de Literatura Brasileira, na Faculdade de Letras da UFRJ, em 1997, sob a orientação da professora Rosa Gens. Foi revisado em 2011 pela própria autora, Janea Dias)

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